Parar de escalar seria trair Berna, Kika Bradford

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, a montanhista Kika Bradford conta o drama de deixar o amigo Bernardo Collares ferido no Fitz Roy e descer sozinha para buscar ajuda.

"Estou bem fisicamente. Durmo bastante, me alimento bem (ou o melhor que posso) e tenho me hidratado. Fiquei em El Chaltén por quase dez dias e agora estou no Rio, onde o carinho da família e dos amigos irão me ajudar nesse momento difícil.

Berna (o montanhista carioca Bernardo Collares, de 46 anos, cujo corpo jaz num platô de difícil acesso do Monte Fitz Roy, Patagônia Argentina) não era apenas meu parceiro de escalada, era o meu melhor amigo. Criamos uma parceria na montanha que transcendeu as paredes rochosas: trabalhávamos juntos pelo montanhismo, compartilhávamos ideias e ideais, viajávamos juntos, planejávamos aventuras... Nada nos prepara para uma situação e uma decisão assim (deixar um companheiro ferido no alto da montanha e descer para pedir socorro). Sim, era a única opção, mas isso está longe de ter sido fácil. Berna não podia se mover, a dor era muito grande. Antes de eu dizer qualquer coisa ele falou: ‘Kika, daqui eu só saio de helicóptero. Você precisa descer sozinha. Me deixa aqui e vai buscar ajuda’."

(...)

"No glaciar, mais ou menos a quatro horas da base e ainda a cinco horas de El Chaltén, encontrei o Juan, meu namorado, que tinha ido me buscar. Foi nessa hora que me permiti chorar pela primeira vez. Não me considero uma pessoa muito religiosa, mas sei que forças maiores estavam comigo ali. Pedia a todos os deuses que conheço e aos que não conheço também, mais a todos os anjos da guarda, para me ajudarem. E sei que me ajudaram. E sei que Berna, uma pessoa de luz e que tinha um campo energético muito forte, também me ajudou."

Mas em: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,parar-de-escalar-seria-trair-berna-,666636,0.htm

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