Relato via Levi Weksler 7º VIIc - E2 D1 110 mts - Agulhinha da Gávea

De: Claudio França

Povo Graalense,

 
Estou devendo alguns relatos de vias para a lista, como o da Sinuca de Bico e o da Fortaleza, mas não tenho tido muita paciência para escrever e também acho que a graalera não lê muito os relatos longos. De qualquer forma estou enviando um relato (menos técnico dessa vez e com fotos) de uma via que foi sugestão do Leone

A cerca de uma semana atrás recebo um e-mail do mestre Leone com a sugestão de entrar em uma via dele na Agulhinha da Gávea, a esquerda da Bacuri. A conquista é de 2006, mas ele foi a pouco tempo na via intermediar alguns lances expostos e agora ela ficou no naipe!  No e-mail vinha um croqui e a seguinte frase: " Essa via é boa para você testar seus reflexos". Eu achei tudo muito suspeito, tenho certeza que enquanto ele escrevia o e-mail ele dava aquele meio sorriso característico que todos que já entraram numa boa roubada com ele conhecem rs.

Chamei a Natália, uma amiga minha que mesmo escalando quase nunca manda super bem e que já está acostumada a roubadas, desconversei (sadicamente rs) quando ela perguntou o grau da via e toquei para lá no sábado de manha.

Logo quando chegamos na base pensamos que iríamos torrar no sol, já que, lá faz sombra apenas depois das 14 horas. Mas se fôssemos a tarde talvez não desse tempo de completar a via. Começamos a nos equipar e um vento manso, porem gelado começou a entrar. Agradeci a Deus por mandar aquela brisa!! Eu iria me arrepender muito depois rs

A via sai da mesma base da Bacuri, mas toca-se na horizontal e com proteções em móvel para a esquerda, e depois da horizontal toca-se para cima uma fenda esquisitinha também protegida em móvel de 5º e ao final chega-se no primeiro grampo.


Foto Levi 1
 
Do primeiro grampo da via para o segundo começam as surpresas. Ao olhar percebo que acabara de ser contemplado com uma horizontal de 7a, protegida em móvel apenas no final do lance. Me enrolei todo nesse lance, fui por cima, voltei, fui por baixo e quando passo por ele e chego no bloco descubro que a boa ali é uma peça grande e eu já tinha usado todas as grandes até chegar no primeiro grampo. Coloquei um nut pequeno, nº 3 eu acho, que ficou um lixo e continuei. Cheguei próximo do segundo grampo da via e vi que tinha que fazer um movimento chato de pelo menos 5º / 5sup para costurar (com parede suja e os cristais que queria pisar esfarelando), e o problema mesmo era a diagonal cabulosa que ficou desde o primeiro grampo protegida apenas por aquele nut safado!
 
Para melhorar nesse momento baixou o clima patagônico e começamos a ser açoitados por rajadas poucas vezes presenciadas por mim nas paredes cariocas. Como eu ainda estava no inicio do processo de congelamento deu para dar umas xingadas no Leone rs. Puxei a Natália que imediatamente e com toda razão se recusou a fazer essa diagonal. Então pedi para ela se desencordar e passar a corda dela pelo primeiro grampo e assim ela veio mais protegida. Passou bem pelo 7a e chegou até a p1.
 
Na P1 descobri que a Natalia, por alguma razão ainda não compreendida, havia trazido um casaco e duas segunda peles. Sentindo pena de mim ela me emprestou um casaco (que ficou ridículo) e ficou com duas segunda pele uma por cima da outra. Mesmo assim estava sendo um suplicio. Cogitamos descer mas em virtude do rapel em diagonal na ventania preferíamos tocar para cima.
 
A segunda enfiada foi mais tranquila. Um lance de 7a e um de 6º meio de aderência em abaulados sujos, mas não difíceis. O Leone colocou um parafuso que protegeu bem o lance de 6º.
 
Foto Levi 2 - segunda enfiada
Foto Levi 3 - Natália participando na segunda enfiada
 
A terceira enfiada começa em diagonal para a direita, mais ou menos tranquila e depois toca-se para cim em um lance de 7c horrível.Praticamente um lance de levitação! Levitei usando umas microscopicas crocotas para o pé e nada para a mão. Para se ganhar mais altura tem que estar preparado para cair. O lance é corajoso e tem que rezar muito para o pai véio para o pé ficar rs. Fui ganhando altura e faltou duas passadas para terminar, mas já um pouco acima do grampo.
 
Foto Levi 4 - lance da levitação
 
Pensei em arriscar mas como queda quase que certa não está nos meus planos eu tive que fazer uso psicológico de um matinho santo com a mão direita! É, esse lance de 7c não deu! Continuei tocando, peguei um lance esquisito de 6º e fiz a p3.
 
A quarta enfiada já começa com um lance de 7c com direito a uma barriga negativa que deve ser dominada! Pelo menos esse lance de 7c com boa leitura é fazível. É uma sequência de 3 chapeletas! A segunda chapeleta foi meio chata de costurar e para passar a terceira chapa tem que ler bem! Eu tentei fazer pela esquerda e me ferrei, cai e fiz pelo meio mais tranquilo! Lancezinho muito maneiro!!!
 
Foto Levi 5 - 7c fazível
Foto Levi 6 - final da via
 
Na última enfiada, já em estado de pinguim, estava desesperado para sair logo daquela face castigada pelo vento! Essa enfiada saiu rápido, um lance de A0 obrigatório e outro de A1 (o Leone acha que pode ser um 8b/c se for fazível) não encadenado, depois rola dois lances de 6º para terminar! De lá pegamos uma trilhazinha mágica que da a volta na pedra e nos leva para o meio da Jorge de Castro, de onde rapelamos. Para nosso espanto lá estava completamente sem vento! Ufa!! Como sofri!!!
 
Depois recebo uma ligação do famigerado Mestre Leone: " E ai Claudio, mandou a via??? Mandou mesmo?? Tenho um outro croqui agora para te enviar rs". Sacana!! hahahaha
 
Abs e bjs

--
Claudio França



Nenhum comentário:

Postar um comentário